terça-feira, 29 de abril de 2014

Coisas do cotidiano.


Coisas do cotidiano.

Ontem ao chegar a UNIVIDA para a minha fisioterapia, parecia ter adentrado em um hospício.
O dia que desde o começo de meu tratamento era calmo e tranqüilo se transformou. Amanheceu em aceleração ou com a bruxa a solta.
Nada dava certo para as coitadas das Fisioterapeutas, suas assistentes ou estagiárias. Cada aparelho que ligavam, dava defeito ou estavam com algum fio em falta. Era um abre e fecha de portas de armários e corridas de um lado a outro que cheguei a ficar com pena delas.
Para piorar a situação uma das colegas chegou atrasada, pois seu filhinho de três aninhos havia amanhecido com problemas de saúde.
Mas, pensando bem, não sei até que ponto a sua chegada no horário melhoraria aquele caos.
Tudo bem, ao terminar minha seção de tratamento, eu voltei para casa pensando em como iria terminar o dia daquelas profissionais que ali estavam para amenizar a dor de quem sofre.
Acabei me esquecendo deste episódio até o dia de hoje quando retornei para mais um dia de tratamento.
Tudo corria na maior tranqüilidade, fora alguns aparelhos que foram trocados de lugar, tudo se encontrava as mil maravilhas.
Quando comecei a aplicação de Lazer, perguntei a Fisioterapeuta que me atendia, como havia terminado o dia anterior. Ela abriu um sorriso e disse: – a senhora nem imagina que final de dia triste nós tivemos por aqui. Houve o estouro de um transformador em um dos postes da proximidade, e ficamos sem energia elétrica até as três horas da tarde. A sala de espera virou uma babilônia, nem todos entendiam que nós não éramos responsáveis pela falta de atendimento. Teve até paciente que ameaçou chamar “Madalena”, (jornalista araraquarense que gosta de se promover com as desgraças alheias), para fazer uma reportagem. Outros queriam registrar boletim de ocorrência. Isto aqui parecia ser a ante-sala do inferno. Tudo só voltou ao normal ali pelas três horas da tarde, quando a energia foi restabelecida. A senhora estava com a razão, a BRUXA realmente devia estar à solta entre nós.
Hoje elas ainda estão sofrendo as conseqüências do dia anterior, pois, os prontuários da véspera não puderam ser finalizados por falta do computador, mas felizmente a paz voltou a reinar por aqui.

Maria (Nilza) de Campos Lepre – 29/04/2014

Quero ser feliz

Quero ser feliz

Em criança amava tudo.
Na adolescência buscava o amor.
Casada amava o marido e filhos.
Agora aos setenta e cinco anos,
amo a mim mesma.
Hoje nada é mais importante do que
eu me sentir feliz.
Pena ter descoberto esta verdade
Somente agora.
Mas, vou lutar para que o tempo
que me resta seja regido
somente pelos meus preceitos e vontades.
Quero ser FELIZ.


Maria (Nilza) de Campos Lepre – 28/04/2014

domingo, 27 de abril de 2014

Amigos ribeirinhos.

Amigos ribeirinhos.

Em minhas andanças de pesca pelo pantanal de Mato Grosso do Sul, conheci uma família muito peculiar.
Eram migrantes nordestinos que se fixaram ali há muitos anos. Acabaram assimilando os costumes das pessoas da região.
A casa onde moravam era construída sobre palafitas, na riba mais alta do rio Miranda, naquela região.
Na frente havia um pequeno salão com um grande freezer, onde armazenavam os peixes que seus filhos pescavam. Alugavam espaço nele para que outros pescadores vizinhos também pudessem conservar os seus peixes, que ficavam ali a espera dos caminhões frigoríficos que vinham de São Paulo todo final de semana. Só então vendiam o seu produto.
Dona Amália, era a cabeça da família. Era ela quem negociava o valor dos pescados e sempre conseguia um bom preço por eles.
Amália era uma senhora de estatura mediana, meio roliça, mas muito ativa. Trazia os longos cabelos que começavam a ficarem grisalhos, presos na nuca numa forma de coque. Pertencia a uma igreja evangélica e dividia tudo que ganhava como dizimo com seu Pastor. 
Não me recordo de vê-la parada, estava sempre frente a algum afazer. Mãe de muitos filhos e ainda procriando, apesar de já ter alguns netos, e o seu caçula ter apenas três anos de idade. Ela cuidava da casa, dos filhos, da tralha de pesca, e ainda cozinhava para que não faltasse sustento a sua família – como dizia ela.
Na parte da tarde aproveitava para salgar alguns peixes para estocar na despensa para a época da piracema, quando a pesca é proibida.
Era ela também quem no final de um dia de pesca, limpava os peixes e os pesava antes deles irem para o congelador. Embalava-os e colocava o nome de quem havia pescado. Contava apenas com a ajuda de uma filha, os homens só se dedicavam a pesca, o resto era com as duas.
Eu sempre achei aquela situação desumana, mas, não podia me intrometer na vida deles, principalmente porque nesta região as desavenças costumavam ser resolvidas - no tiro, na bala como eles diziam.
Em contrapartida, seu esposo, estava sempre deitado em uma rede que ficava na área dos fundos da casa, que dava vistas para o rio. Dizia ele que ficava a inspecionar a saída e a chegada dos barcos de seus filhos. Não tinha aparência de doente, pelo contrario, irradiava saúde por todos os poros. Entretanto a família toda o tratava como um inválido, até hoje não consigo entender o porquê da atitude deles. Mas, convenhamos, nunca tive a coragem de perguntar nada somente fiquei na observação.
Seu Gesu, como era chamado por todos, trazia sempre na mão uma espécie de chicote feito com cordas desfiadas e amarradas numa das pontas para servirem de cabo. Passava o dia matando ou espantando mosquitos e pernilongos que se atreviam a chegar perto dele com esse apetrecho. Os dias passavam e ele continuava se embalando e admirando as águas do rio Miranda passarem por debaixo dele.
Durante todos os anos em que freqüentei aquela região, jamais o vi sair da rede a não ser para comer, ir à igreja ou dormir. Mas, era um observador atento do comportamento do rio, e das nuvens, quando dizia para não irmos muito longe o obedecíamos, pois sempre sabia qual seria o comportamento das águas ou do céu. Quando dizia que ia chover ou ia ter temporais, sempre acertava.
Não sei por que, mas das ultimas vezes que estive por aquela região, não mais os encontrei, haviam se mudado para a cidade de Corumbá, onde uma de suas filhas morava desde que se casara.
Às vezes encontrava com algum de seus filhos na cidade de Miranda, mas nunca mais me encontrei com o casal.
Guardei comigo em minhas lembranças a forma tão peculiar de vida daquela família, tão simples, tão diferente do meu modo de vida, mas, sem duvida nenhuma muito unida e feliz.
Dentro das regras que estabeleceram, eram as pessoas mais felizes com as quais tive o ensejo de conviver.
Hoje acredito que não importa a forma que vivemos, mas sim como aceitamos as regras que estão a nossa disposição.
Já notaram que nunca estamos satisfeitos? Que estamos sempre buscando a satisfação e o prazer onde na maior parte das vezes não conseguiremos alcançar?
A felicidade não esta onde procuramos, ela já se encontra aqui a nosso lado, nós é que somos cegos e não conseguimos agarrá-la.
Saudades desta época de minha vida, mas sei que já passou. Agora estou vivendo novos momentos, que também são muito importantes para mim.


Maria (Nilza) de Campos Lepre – 27/04/2014

Vovó Nita

Vovó Nita


Em minha pequena cidade vivia uma senhora de oitenta anos chamada Anita, mas, todos a conheciam por - Vovó Nita.
Sua figura, de presença forte, que nunca passava despercebida, despertava minha curiosidade. Era dona de um porte soberbo, mas ao mesmo tempo transpirava ternura, e essa dualidade me intrigava. Era um misto de força e ao mesmo tempo de amor.
Sempre que podia gostava de parar frente à varanda do casarão onde ela morava para um dedo de prosa. Eu amava estes momentos. Vovó Nita sempre tinha alguma coisa a me ensinar através de suas sábias palavras.
Apesar da idade avançada fazia questão de morar na casa onde havia habitado quase que a vida toda. Não aceitava sair dali para morara com nenhum de seus filhos.
Era uma espécie de matriarca, pois havia criado seus dez filhos, praticamente sozinha. Seu marido falecera quando seu caçula era ainda um bebê.
Um dia ao acordar encontrara o esposo inerte ao seu lado. Deve ter acontecido durante o sono, pois não percebeu nada de diferente. Não se conformava, pois, acreditem, despertava ao simples espirro ou resmungo de alguma das crianças.
A jovem senhora, que até aquele momento havia levado uma vida de rainha, sempre fora rodeada de empregadas e damas de companhia, se viu de um momento para o outro sem o chão debaixo de seus pés.
Num átimo teve de se transformar em mãe e pai para seus filhos.
Sem nunca ter se preocupado de onde vinha o dinheiro que sustentava a casa e todos seus luxos, teve de tomar consciência do fato e rapidamente se transformar em dirigente de todos os negócios da família.
No início um irmão de seu falecido esposo se prontificou a colocá-la a par de como deveria agir no gerenciamento do armazém e da fábrica de biscoitos.
Desta forma dona Anita que sempre teve fartura e conforto, teve de se transformar em homem da casa.
As pessoas que a conheceram nesta fase conturbada de sua vida, dizem, que ela chegava a carregar sacos de 60 quilos nas costas, para as carroças e caminhões de fazendeiros que compravam mantimentos em seu armazém.
Apesar de sua beleza, e de muitos cortejadores, não se interessou por nenhum deles, continuou viúva cuidando de sua família e dos empreendimentos deixados pelo marido.
Tornou-se uma mulher firme e decidida, conseguiu gerenciar muito bem os todos os negócios.
O armazém com o passar dos anos transformou-se em uma rede de supermercados.
A fábrica hoje é uma grande indústria de bolachas, doces, pães, biscoitos e balas.
Quem gerencia os negócios atualmente são seus filhos, e netos, mas sempre sob a sua supervisão. Não largou totalmente o domínio de seu império.
Mas o que eu mais amo é ver todas as tardes esta fantástica senhora se embalando calmamente em sua cadeira de vime.
Com os olhos fixos no horizonte deixa-se inundar pela beleza de mais um por do sol que aos poucos se deita, cobrindo o céu com todas as cores do arco-íris. Aos poucos o manto da noite começa a cobrir toda a paisagem, dando início a aparição de miríades de lantejoulas que enfeitam o tapete por onde a princesa Lua irá caminhar até o raiar de um novo dia.
O que guardo comigo, como se fosse a imagem de uma velha foto, é a figura de uma rainha cansada, sentada em seu trono a espera de um ocaso que parece se aproximar aos poucos em sua vida.
Vovó Nita, sentada em sua varanda tendo ao fundo as cores vibrantes do por do sol, trazem até mim as mesmas emoções que sinto quando me coloco frente a um quadro de Vincent Van Gogh.
De vovó emanam fortes energias e vibrações tão fortes, que a transformo em minha mente, em mais uma nova obra do famoso mestre, que colocou em suas telas não só as cores vibrantes, mas também sua alma, e seu coração.
É assim que me recordo de Vovó Nita: Uma obra de arte pintada por Van Gogh que consigo apreciar apenas ao fechar dos olhos.
Ela faz parte de minhas memórias.


Maria (Nilza) de Campos Lepre. 25/04/2014