quinta-feira, 31 de julho de 2014

Um lugar no coração

Um lugar no coração – Maria (Nilza) de Campos Lepre.

Ao pisar pela primeira vez neste chão, eu era uma adolescente triste e assustada.
Havia acabado de deixar tudo que conhecera de bom em meus poucos anos de existência. Ao longe ficaram meus amigos, escola, pontos de referência e tudo mais que sempre havia me feito ser uma menina feliz.
Em minha cabeça parecia escutar as vozes de minhas amigas gritando:
- Você não vai gostar. O povo daquela cidade é orgulhoso. Não gosta de estrangeiros. Você vai ficar sozinha sem amigos. Eles não aceitam quem não tenha nascido ali.
Era assim que as outras cidades vizinhas viam o povo de Araraquara. Orgulhoso e elitista.
Apavorada, parti para meu primeiro dia de aula. Entrei para o pátio e fiquei em um canto sem procurar fazer amizade com ninguém. Meu coração estava tremendo de medo, meus olhos a qualquer momento começariam a verter lágrimas sem eu mesmo saber o motivo.
Neste momento uma das alunas se aproximou de mim e se apresentou:
- Eu me chamo Reine e você quem é? De onde vem?
- Eu vim de Ibitinga e me chamo Maria Nilza.
Meu coração começou a se aquietar. Aos poucos outras meninas foram se aproximando e acabei me incorporando ao ciclo de amizade delas.
Aprendi que não se pode ter um pré-julgamento de ninguém e nem de nada nesta vida.
A partir deste primeiro dia, comecei a me apaixonar por esta terra que é conhecida como a morada do sol, mas para mim ela é na verdade a morada dos Deuses. Não há neste mundo cidade que eu ame mais do que esta. Ela me acolheu de braços abertos. Foi aqui que finquei minhas raízes, onde encontrei meu amor, onde meus filhos nasceram e cresceram.
Viajei pelos quatro cantos do Brasil e do mundo, mas não há lugar melhor que este. ARARAQUARA: com suas Árvores, Parques, Jardins, Alamedas, Bibliotecas, e Teatros, conquistaram para sempre meu coração. Ha muitos anos se dedica á cultura, e as artes. Talvez tenha sido esta a razão de a terem tachado de orgulhosa e elitista.
As outras cidades com certeza tinham era inveja de seu sucesso e de seus artistas.

ARARAQUARA: hoje faço perante todo teu povo a minha declaração de amor. Mesmo não tendo nascida aqui. Sou araraquarense de coração e alma. TE AMO.

O brilho das estrelas

O brilho das estrelas

Em um tempo bem distante, meu marido e eu, deitados na rede pendurada na área da frente de nosso pesqueiro as margens do rio Paraná, estávamos admirando as estrelas. Como ali não havia chegado à eletricidade, não havia nada para ofuscar o brilho delas.
Ao balanço da rede conversávamos sobre a beleza daquele lugar que parecia perdido no tempo. Ali o céu era mais lindo, o brilho das constelações parecia ganhar intensidade. Divisávamos sem nenhum esforço o nosso famoso “Cruzeiro do Sul”.
Ficávamos assim, somente na contemplação, quase todas as noites após um dia estafante de pescaria.
Conversa vai conversa vem e ele levantou uma questão: - Como seria possível que nós aqui na terra enxergássemos o brilho de estrelas, que há muitos e muitos anos, já se encontravam extintas, mortas.
Esta pergunta na ocasião ficou sem resposta.
Na volta procuramos saber as explicações cientificas, mas bem no fundo de minha alma não me convenceram.
Hoje, depois de passado tantos anos, eu encontrei a resposta.
O brilho delas perdurou, porque ele é o resultado de tudo que ela foi enquanto vivia. É a sua essência, na realidade a sua alma. Sei que é uma resposta que não se baseia em estudos científicos, mas dentro de mim é assim que penso e quero que seja.
Assim também cada um de nós é um pequeno planeta que um dia também será extinto, mas, compete a cada pessoa através de seus atos fazer com que sua luz continue a ser admirada por pessoas que por aqui ficarem.
Ainda consigo divisar o brilho de cada pessoa que me foi querida, mesmo tendo partido há muitos anos. Dentro de mim nunca morrerão. Só deixarão de brilhar quando eu também me for.


Maria (Nilza) de Campos Lepre - 2013