sexta-feira, 10 de maio de 2013

Comédia da vida real.



Comédia da vida real.

Abel e Marta resolveram tirar um dia de folga. Para que isso pudesse acontecer, o casal pediu a Maria para cuidar de seu pai, um velhinho simpático e tagarela, que vivia com eles há já algum tempo.
Seu Mauro já está beirando os noventa anos de idade. Com o passar dos anos, acabou perdendo um pouco da audição e muito da visão, coisas comuns a pessoas de muita idade.
Graças ao bom Deus, conservou totalmente suas funções cerebrais. Se não fosse o desgaste natural dos músculos e ossos, estaria vivendo por sua conta e risco, mas, infelizmente, se encontra com grande dificuldade de locomoção. Por esse motivo, Maria foi convidada a passar o dia em sua companhia.
Já era quase noite, quando Abel e Marta retornaram do passeio.
Ao entrarem, Maria veio ao encontro deles, com o semblante carregado de preocupação. Estava tão apavorada, que seu corpo tremia feito vara verde.
O casal logo ficou imaginando que algo havia acontecido com o senhor Mauro.
Abel correu para dentro, à procura de seu pai e o encontrou cochilando, sentado calmamente em sua poltrona preferida. Deu um suspiro de alívio e voltou ao encontro de sua irmã para se inteirar dos acontecimentos.
Maria estava relatando a Marta o que havia ocorrido. Disse que em um determinado momento, após ter almoçado, o velhinho quis ir até o banheiro. Como o seu ficava muito distante da sala de TV, resolveu usar o do quarto do casal. Maria o acompanhou até lá e sentou-se em uma cadeira que fica no corredor, aguardando pela sua volta.
Não demorou muito, ele retornou muito preocupado, dizendo que havia um velho mal encarado num dos cantos do quarto do casal.
Maria abriu a porta e se certificou que não havia ninguém dentro daquele cômodo. Encaminhou o pai até sua “cadeira do papai”, ligou a TV e sentou em outra a seu lado.
Seu Mauro continuou afirmando que havia um velho dentro do quarto e que ele era muito mal educado, pois não havia respondido quando ele perguntou quem era ele.
Ficou repetindo o mesmo refrão a tarde toda; parecia um disco enroscado. Maria, aos poucos, foi se apavorando; começou a acreditar que alguma alma do outro mundo estava perturbando o sossego daquela casa. Começou a rezar para que o casal voltasse logo do passeio. Por isso, ficou feliz ao escutar o som do portão da garagem se abrindo.
Depois de ter se inteirado dos fatos, Abel resolveu ir investigar o que havia assustado seu pai. Dirigiu-se ao quarto e examinou com atenção todos os cantos do recinto. Olhou até debaixo da cama e não encontrou nada, nem ninguém.
Resolveu, então, ir até o banheiro. Constatou que ali também estava tudo em ordem. Mas, ao sair, olhou para a sua direita. Aí entendeu o que havia acontecido. Começou a sorrir e, aos poucos, acabou tendo um ataque de risos.
Chamou Marta e Maria para ver o tão famoso fantasma, pois ele realmente existia. Maria é que não soubera como encontrá-lo.
As duas chegaram ainda cheias de medo, quando Abel pediu que olhassem para a direita e ali encontraram não um, mas três fantasmas. Era a figura deles refletida num espelho, que fazia parte de uma sapateira que ficava bem no fundo do quarto.
Abel voltou para a sala, sentou-se ao lado do pai e perguntou:
- Pai, dá para contar o que o senhor viu?
- Vi um velho carrancudo, que não quis responder as minhas perguntas. E ainda ficou me encarando com uma cara muito feia.
Abel achou melhor explicar ao pai o que havia acontecido. Ao final, os dois acabaram rindo muito deste episódio.
Depois de ouvir de Marta o relato desta sua experiência, passei a ter a certeza que este acontecimento passará a fazer parte da história de sua família.
Será contada em muitas reuniões como piada da vida real.

A autora: Maria (Nilza) de Campos Lepre