quinta-feira, 24 de setembro de 2020

 



Que saudade... Parece que foi ontem.

 

Hoje acordei nostálgica.

Ao preparar o café da manhã, comecei a recordar meus tempos de menina.

Retorno a época em que vivíamos na fazenda, este talvez tenha sido o melhor período de minha vida.

Meus dias eram repletos de brincadeiras, não tinha qualquer preocupação com o futuro. Acreditava que o mundo seria sempre colorido e feliz. Nada de ruim poderia jamais me atingir, sentia-me protegida ao lado de meus pais e irmãos.

Volta a minha memória, os antigos cafés de minha infância. Só então percebo o ridículo da situação. Não há termos de comparação com o que preparo hoje em dia.

Nosso lanche era feito por mamãe com muito desvelo. A mesa estava sempre coberta por uma toalha branca com barrados geralmente em xadrez, vermelho ou azul.

Esperando pela família. Na mesa, havia sempre queijo fresco, feito por ela, bolo de fubá, bolo de coco, ou de mandioca, era o que eu mais gostava. Em vidros de boca larga sempre havia vários tipos de bolachas, também feitas em casa. A manteiga era batida na hora pela serviçal, pão acabado de ser assado, e uma grande jarra com leite recentemente ordenhado.

Quando todos estavam acomodados em seus lugares, só aí ela trazia um grande bule com café acabado de ser coado. O odor que desprendia inundava toda cozinha era um aroma inebriante, e até agora continua presente em minha memória olfativa, e neste instante inunda meu ser de saudades.

Tenho que dizer, que os grãos de café eram torrados em casa, e muitas vezes esta tarefa era minha. Logo após serem torrados, os grãos eram passados por uma maquina tocada a mão onde eram moídos.

O odor daquela cozinha que ficou perdida no passado, o clima de tranquilidade, paz, harmonia, e do amor que pairava no ar naqueles dias felizes, chegam até mim como uma cascata. Jorra sem parar e inunda meu ser de uma paz divina.

As recordações não param de verter, e a saudade crava suas garras em meu coração, e sem que perceba, as lagrimas me veem aos olhos.

Hoje em dia, meu lanche da manhã é bem diferente.

Saio da cama apressada, pego o pacote de pó de café, comprado já moído e empacotado, coloco em uma máquina, e ai corro ao banheiro para fazer minha higiene pessoal.

Quando retorno ele já esta pronto.

Abro a geladeira, pego uma caixa de leite que já foi comprado ha dias. Coloco o em uma xícara, acrescento o café, e aí o esquento em um forno de micro ondas.

A minha frente, a mesa se encontra preparada, com duas toalhinhas americanas. No centro, um pão de forma, e uma caixa de queijo cremoso.

Raramente tenho tempo de saborear uma fruta ou mesmo um pedaço de bolo. São raras as vezes que me disponho a preparar algum. Como fico muito pouco em casa, as frutas acabam se estragando, por isso não as compro com frequência. Este é o meu café da manhã atual.

Só agora começo a questionar a vida de minha mãe.

Não deve ter sido nada fácil, cuidar de uma grande família, fazendo tudo com suas próprias mãos, e sempre conseguindo manter-nos unidos e felizes. Isso tudo, sem contar com a ajuda de nenhum recurso que hoje em dia temos, para aliviar nosso trabalho.

O tempo não retrocede, mas tudo que vivemos intensamente fica gravado em nosso ser para sempre.

Quando menos esperamos o passado retorna e geralmente nos deixa nostálgicos.

Esta minha volta ao passado me deixou com a sensação de que tudo se passou ha muito pouco tempo.

Deixou a impressão de que parece que foi ontem que tudo aconteceu.

Ah! A saudade machuca, mas quem consegue viver sem ela?

 

A autora Maria (Nilza) de Campos Lepre.

terça-feira, 22 de setembro de 2020

 


Uma italianinha chamada Giovannina.

Texto real, mas com nomes fictícios. 30/02/2017

Início de período letivo, estávamos no pátio quando adentrou um senhor vestido de uma forma peculiar. Usava calças de um brim muito encorpado e por cima umas botas de cano longo que chegavam até os joelhos. Eram tão ajustadas que pareciam comprimir as pernas. Na cintura um chicote longo enrolado preso ao cinto que era muito largo. A camisa feita também de brim só que menos encorpado. As mangas eram compridas. Na cabeça um chapéu que não lembrava em nada os usados pelos nossos colonos e vaqueiros; se assemelhava mais a chapéus usados por cowboys norte americanos. Pelas mãos trazia uma jovem extremamente branca, mas de lindos e negros cabelos muito lisos que contrastavam com sua brancura. Os olhos no momento assustados eram de um azul muito intenso e extremamente claro. Suas bochechas estavam tão vermelhas que pareciam duas maçãs presas em sua face.

Cruzaram o pátio apressadamente e rumaram para a diretoria.

Antes do toque do sinal de entrada a diretora apareceu e anunciou que acabávamos de ganhar uma nova colega. Ela era italiana e chamava-se Giovanina, quase não falava a nossa língua. Pediu que a recebêssemos com todo carinho.

Todos que estavam no pátio a aplaudiram de pé. Devido a sua idade foi colocada na mesma turma a qual eu pertencia.

Não demorou muito tempo e ela já havia se acostumado à maneira de estudarmos e começou a falar com mais desenvoltura o português.

Todo o dia seu pai, que depois fiquei sabendo havia comprado uma fazenda de criação de gados um pouco distante da cidade, a trazia e depois vinha pega-la no final das aulas com uma grande caminhonete último tipo no mercado.

Nós depois que ela adentrou o nosso grupinho particular a passamos a chamá-la simplesmente de Nina, coisa que ela amou.

Era uma garota totalmente fora dos padrões ao qual estávamos acostumadas. Seus sonhos diferentes dos nossos não era o de encontrar um príncipe encantado pelo qual se apaixonaria.

O sonho dela era somente o de se deitar o mais rápido possível com algum menino. Queria conhecer as delícias do sexo não aguentava esperar pelo cavalheiro que a levaria montada em um cavalo para um castelo distante.

Quando começávamos a falar sobre nossos planos para o futuro caia na risada e se afastava.

Apesar de ser completamente diferente nós a amávamos, pois fora estes sonhos malucos era uma pessoa carinhosa companheira e sempre alegre. Parecia amar a vida acima de tudo. Por qualquer motivo saia cantando e dançando, sem se importar em qual lugar se encontrava.

Todo final de semana seu pai a trazia para assistir a primeira seção do cinema. Ele e sua esposa assistiriam a segunda.

Ali nos encontrávamos e depois íamos para um bar vizinho a sala de espetáculos onde os jovens desta época se reuniam para sorver um refrigerante e degustar algumas batatinhas fritas. Ficávamos ali até o término da última seção. Aproveitávamos para colocar a novidade em dia e, também par flertar (paquerar, azarar) o garoto que achávamos atraente, ou que fazia nossos corações bater mais rapidamente.

Muitos namoros começaram desta forma e acabaram mais tarde em casamento.

Nina era sempre a mais animada da turma e se destacava principalmente por seu português carregado pelo sotaque italiano.

Pela sua beleza e pela forma de falar se tornava muito mais atraente para os meninos que a rodeavam. Isso dificultava a nossa vida, pois geralmente passavam a nos ignorar.

Os dias se passaram e nosso ano letivo estava chegando ao seu final. Nina começou a cabular aula. No principio ela assistia a primeira e depois sumia só voltando ao final. Um dia passou a não mais assinar presença e repetiu isto por alguns dias. 

Passado uma semana seu pai apareceu na escola e atravessou o pátio muito nervoso e se dirigiu a diretoria. Entrou pisando tão fortemente que seus passos poderiam ser ouvidos a distância.

De fora conseguíamos escutar a sua voz alterada falando com a diretora, mas não conseguíamos entender por que o português dele era mil vezes pior que o de Giovannina.

Como entrou saiu sem se despedir de ninguém.

Até hoje não sei o que aconteceu com aquela linda italianinha que havia conquistado nosso coração apesar de suas ideias loucas.

Como entrou em nossas vidas sumiu e até hoje me pergunto aonde andará aquela linda criatura?

 

Maria (Nilza) de Campos Lepre.