terça-feira, 22 de setembro de 2020

 


Uma italianinha chamada Giovannina.

Texto real, mas com nomes fictícios. 30/02/2017

Início de período letivo, estávamos no pátio quando adentrou um senhor vestido de uma forma peculiar. Usava calças de um brim muito encorpado e por cima umas botas de cano longo que chegavam até os joelhos. Eram tão ajustadas que pareciam comprimir as pernas. Na cintura um chicote longo enrolado preso ao cinto que era muito largo. A camisa feita também de brim só que menos encorpado. As mangas eram compridas. Na cabeça um chapéu que não lembrava em nada os usados pelos nossos colonos e vaqueiros; se assemelhava mais a chapéus usados por cowboys norte americanos. Pelas mãos trazia uma jovem extremamente branca, mas de lindos e negros cabelos muito lisos que contrastavam com sua brancura. Os olhos no momento assustados eram de um azul muito intenso e extremamente claro. Suas bochechas estavam tão vermelhas que pareciam duas maçãs presas em sua face.

Cruzaram o pátio apressadamente e rumaram para a diretoria.

Antes do toque do sinal de entrada a diretora apareceu e anunciou que acabávamos de ganhar uma nova colega. Ela era italiana e chamava-se Giovanina, quase não falava a nossa língua. Pediu que a recebêssemos com todo carinho.

Todos que estavam no pátio a aplaudiram de pé. Devido a sua idade foi colocada na mesma turma a qual eu pertencia.

Não demorou muito tempo e ela já havia se acostumado à maneira de estudarmos e começou a falar com mais desenvoltura o português.

Todo o dia seu pai, que depois fiquei sabendo havia comprado uma fazenda de criação de gados um pouco distante da cidade, a trazia e depois vinha pega-la no final das aulas com uma grande caminhonete último tipo no mercado.

Nós depois que ela adentrou o nosso grupinho particular a passamos a chamá-la simplesmente de Nina, coisa que ela amou.

Era uma garota totalmente fora dos padrões ao qual estávamos acostumadas. Seus sonhos diferentes dos nossos não era o de encontrar um príncipe encantado pelo qual se apaixonaria.

O sonho dela era somente o de se deitar o mais rápido possível com algum menino. Queria conhecer as delícias do sexo não aguentava esperar pelo cavalheiro que a levaria montada em um cavalo para um castelo distante.

Quando começávamos a falar sobre nossos planos para o futuro caia na risada e se afastava.

Apesar de ser completamente diferente nós a amávamos, pois fora estes sonhos malucos era uma pessoa carinhosa companheira e sempre alegre. Parecia amar a vida acima de tudo. Por qualquer motivo saia cantando e dançando, sem se importar em qual lugar se encontrava.

Todo final de semana seu pai a trazia para assistir a primeira seção do cinema. Ele e sua esposa assistiriam a segunda.

Ali nos encontrávamos e depois íamos para um bar vizinho a sala de espetáculos onde os jovens desta época se reuniam para sorver um refrigerante e degustar algumas batatinhas fritas. Ficávamos ali até o término da última seção. Aproveitávamos para colocar a novidade em dia e, também par flertar (paquerar, azarar) o garoto que achávamos atraente, ou que fazia nossos corações bater mais rapidamente.

Muitos namoros começaram desta forma e acabaram mais tarde em casamento.

Nina era sempre a mais animada da turma e se destacava principalmente por seu português carregado pelo sotaque italiano.

Pela sua beleza e pela forma de falar se tornava muito mais atraente para os meninos que a rodeavam. Isso dificultava a nossa vida, pois geralmente passavam a nos ignorar.

Os dias se passaram e nosso ano letivo estava chegando ao seu final. Nina começou a cabular aula. No principio ela assistia a primeira e depois sumia só voltando ao final. Um dia passou a não mais assinar presença e repetiu isto por alguns dias. 

Passado uma semana seu pai apareceu na escola e atravessou o pátio muito nervoso e se dirigiu a diretoria. Entrou pisando tão fortemente que seus passos poderiam ser ouvidos a distância.

De fora conseguíamos escutar a sua voz alterada falando com a diretora, mas não conseguíamos entender por que o português dele era mil vezes pior que o de Giovannina.

Como entrou saiu sem se despedir de ninguém.

Até hoje não sei o que aconteceu com aquela linda italianinha que havia conquistado nosso coração apesar de suas ideias loucas.

Como entrou em nossas vidas sumiu e até hoje me pergunto aonde andará aquela linda criatura?

 

Maria (Nilza) de Campos Lepre.


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