domingo, 8 de março de 2015

Uma velha mulher.

Parada frente ao espelho a velha senhora se contempla.
Não consegue ver a figura alquebrada, envelhecida e carregada de rugas, vê somente aquela que ainda habita dentro de si. Uma linda jovem carregada de alegrias e esperanças. O frescor da juventude irradia por todos os poros de seu corpo.
Alisa com cuidado seus cabelos brancos, mas, acreditando que ainda sejam castanhos. Abre o pó-compacto e vagarosamente o aplica por toda face.
Olha novamente para a figura refletida, e percebe que se esqueceu de colorir os lábios. Abre novamente a gavetinha da penteadeira e escolhe demoradamente o batom que mais a atrai.
O ritual diário terminado observa novamente a sua figura e aprova o resultado.
Vai até a sala, pega um livro e se dirige para a área na frente de sua casa. Senta-se em uma cadeira estrategicamente colocada, para que possa apreciar o movimento dos carros e dos pedestres.
Vez por outra uma pessoa amiga para frente ao portão para um dedo de prosa.
A velha senhora se sente muito feliz, pois já cumpriu sua missão, casou-se, formou uma família, criou seus filhos e ajudou a criar os netos.
Agora só lhe resta amar a si mesma e desfrutar das atenções de amigos que passam ou algumas vezes a visitam. Mesmo sendo esquecida por muito tempo por sua família, ela traz a alegria dentro de si, pois consegue sentir-se como se ainda fosse aquela linda adolescente cheia de vida, sonhos e esperanças no futuro. Ela se ama não importando para o que os outros pensem dela.
Isto é saber viver. Isto é ser mulher.


Maria (Nilza) de Campos Lepre – 08/03/2015