domingo, 14 de outubro de 2012

Oi amigos. Bem vindos a meu blog.

Aqui colocarei alguns trechos de livros que ja publiquei e também algumas cronicas inéditas.

Uma cena surreal.

Em uma das viagens que fizemos ao exterior eu e meu marido presenciamos uma cena inusitada, felizmente, estávamos com uma câmera, e, assim conseguimos guardar as imagens para podermos compartilhar aquele momento com nossos familiares.
Havíamos terminado nossa visita a Espanha, Portugal, França e Suíça. Agora teríamos um mês e meio para percorrermos a Itália. Meu marido pretendia visitar seus primos que a muito não via. Depois de termos percorrido metade do país, finalmente chegamos à província de Salerno, situada na região de Campânia, próxima a Nápoles. É uma cidade litorânea, e, foi numa de suas praias, que nossos pracinhas desembarcaram quando chegaram para lutar na segunda grande guerra mundial.
É nesta cidade que mora um dos primos de Arnaldo, chamado Francesco, ele é, Sindaco (Prefeito) da pequena vila Sant´Angelo a Fazanella, berço natal de meu sogro. Hoje iremos almoçar em sua casa para que eu seja apresentada a sua esposa e filhos. Nosso encontro foi marcado para as 13 horas no saguão do hotel onde estávamos hospedados. Como o compromisso seria após o meio dia, levantamos cedo, e, logo após o café da manhã, saímos para uma caminhada pela via Lungomare.
Caminhamos vagarosamente aproveitando as belas paisagens que se apresentavam a nossos olhos. Fomos até o final da via, e, ao retornarmos bem perto de nosso hotel, resolvemos sentar em um dos muitos bancos espalhados por ela, e, ficar observando as pessoas que se divertiam numa pequena praia que ficava bem a nossa frente. Não era das mais belas, mas, deve ser de uso da população de menos poder aquisitivo, suas areias pareciam mais com areia grossa usada em nossas construções, só que de uma cor acinzentada. As melhores praias são completamente fechadas por barraquinhas, e, isso faz com que tenham a aparência de um acampamento de férias.
Aqui na Itália nem todas as praias são de domínio público, como em nosso país, para poder usá-la, ou se torna sócio, ou pagar pelo seu uso.
Encontrávamos entretidos observando uma senhora, que entrara no mar com dois cachorros presos por coleiras, e, os banhava sem se preocupar com as crianças que brincavam a seu redor, neste momento, fomos abordados por uma senhora muito simpática.  Era de estatura média, um pouco roliça, mas muito sorridente, se aproximou e perguntou se poderia compartilhar o banco conosco.
Prontamente aceitamos. Foi então que ela gritou a plenos pulmões: _ Gina, Nena, Paschoale, bambini viene qui.
Rapidamente foi surgindo um numero incrível de crianças, que a pequena senhora trocava ali mesmo, como se estivesse usando o banheiro de sua casa. Abriu uma sacola e foi colocando toda a roupa das crianças dentro dela. Os sapatos ficaram espalhados ao lado e em baixo do banco.
Terminada a lida com a criançada, pediu a mais velha que fosse buscar uma cesta onde estava guardado o lanche.
 Perguntou se poderia deixar a cesta no banco, concordamos, agradeceu e partiram em direção a areia.
Podíamos ouvir os gritos da vovó chamando a atenção de seus netos.  Bem ao seu lado estava um senhor que presumo tenha muitos anos, pois seus cabelos eram completamente brancos e seu corpo todo cheio de rugas e pelancas, se divertia apenas sentado com as águas acima da cintura, e, ali ficou por um bom tempo. Quando resolveu se levantar e sair da água, quase tive um acesso de riso, pois não é que este senhor havia entrado no mar vestindo apenas uma cueca samba canção?
Por causa da água o tecido, havia se tornado transparente, e, o pior de tudo, é que ele resolveu se proteger veja bem, não com um guarda sol, mas sim com um guarda chuva preto onde havia amarrado um cabo de vassoura. Ao tentar fixá-lo na areia virou de costas para nós, se inclinou com o bum- bum bem para o alto, e, neste momento, percebemos que o fundilho de sua cueca parecia um coador, tanta era a areia ali depositada, e a água do mar que escorria lembrava mesmo a cor do café. Ele continuou na sua luta até conseguir o que queria sem mostrar nenhuma preocupação com o que as outras pessoas pudessem pensar a seu respeito. Depois, deitou-se na areia protegido pela sombra de seu guarda- chuvas, e, ali ficou aproveitando um bom banho de sol. Parece que os freqüentadores desta pequena praia já estão acostumados com a presença deste senhorzinho, pois ninguém se dignou a ficar olhando, nem mesmo sorrateiramente a esta cena que certamente ficaria muito bem nos filmes de Federico Fellini. Eu sempre achei que era um exagero a forma que ele retratava seu povo, mas aqui convivendo com eles, percebo que o grande cineasta, conseguiu com grande maestria captar toda naturalidade deste povo tão alegre e comunicativo.
Arnaldo teve muita sorte, estava fazendo uma filmagem da praia e conseguiu gravar este fato tão incomum para nós. Pena que tenha sido gravado com uma câmera Super 8 e o filme tenha se deteriorado com o passar dos anos, mesmo assim ainda da para ver algumas cenas, a maior parte parece que foi atacada por fungos. Ainda bem que assim que voltamos da viajem, fizemos projeções para que nossos familiares, e, amigos pudessem comprovar este fato inédito.
Passado algum tempo a simpática nona (vovó em italiano) retornou ao banco com a criançada toda ao seu redor, morta de fome. Enquanto ela secava os menores e colocava a roupa enxuta neles, os mais velhos que já haviam feito a troca atacavam a cesta de onde brotavam queijos, mortadelas, salames, pães, biscoitos e até algumas mamadeiras que eram dadas aos pequeninos. Delicadamente insistiam para que provássemos de um queijo ou salame, o que agradecíamos. Mas acreditem, tivemos que provar o salame que era feito pela simpática senhora, ela só se aquietou quando aceitamos uma fatia. Enquanto isso ficou a nos observar esperando pela nossa aprovação.
Levantamos, e, nos despedimos da nossa recente amiga, ela nos abraçou como se fôssemos velhos conhecidos, as crianças nos brindaram com muitos beijos. Enquanto nos dirigíamos para o hotel, que ficava a poucos metros dali, eles continuavam a gritar “Tanti auguri” (felicidades em italiano).
Tínhamos que nos preparar, Franco viria nos buscar dentro de 40 minutos.
Esse foi sem duvida o dia em que me senti a própria italiana, totalmente integrada no seio deste povo tão querido por mim e pelo meu marido.
A autora: Maria (Nilza) de Campos Lepre

2 comentários:

  1. Suas historias sao de passar dias e dias escutando e querendo sempre mais. Parabens, Mamy!

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