Oi amigos. Bem vindos a meu blog.
Aqui colocarei alguns trechos de livros que ja publiquei e também algumas cronicas inéditas.
Uma cena surreal.
Em uma das viagens que fizemos ao
exterior eu e meu marido presenciamos uma cena inusitada, felizmente, estávamos
com uma câmera, e, assim conseguimos guardar as imagens para podermos
compartilhar aquele momento com nossos familiares.
Havíamos terminado nossa visita a
Espanha, Portugal, França e Suíça. Agora teríamos um mês e meio para
percorrermos a Itália. Meu marido pretendia visitar seus primos que a muito não
via. Depois de termos percorrido metade do país, finalmente chegamos à província
de Salerno, situada na região de Campânia, próxima a Nápoles. É uma cidade litorânea,
e, foi numa de suas praias, que nossos pracinhas desembarcaram quando chegaram
para lutar na segunda grande guerra mundial.
É nesta cidade que mora um dos primos
de Arnaldo, chamado Francesco, ele é, Sindaco (Prefeito) da pequena vila
Sant´Angelo a Fazanella, berço natal de meu sogro. Hoje iremos almoçar em sua
casa para que eu seja apresentada a sua esposa e filhos. Nosso encontro foi
marcado para as 13 horas no saguão do hotel onde estávamos hospedados. Como o
compromisso seria após o meio dia, levantamos cedo, e, logo após o café da
manhã, saímos para uma caminhada pela via Lungomare.
Caminhamos vagarosamente aproveitando
as belas paisagens que se apresentavam a nossos olhos. Fomos até o final da via,
e, ao retornarmos bem perto de nosso hotel, resolvemos sentar em um dos muitos
bancos espalhados por ela, e, ficar observando as pessoas que se divertiam numa
pequena praia que ficava bem a nossa frente. Não era das mais belas, mas, deve
ser de uso da população de menos poder aquisitivo, suas areias pareciam mais
com areia grossa usada em nossas construções, só que de uma cor acinzentada. As
melhores praias são completamente fechadas por barraquinhas, e, isso faz com que
tenham a aparência de um acampamento de férias.
Aqui na Itália nem todas as praias são
de domínio público, como em nosso país, para poder usá-la, ou se torna sócio,
ou pagar pelo seu uso.
Encontrávamos entretidos observando uma
senhora, que entrara no mar com dois cachorros presos por coleiras, e, os banhava
sem se preocupar com as crianças que brincavam a seu redor, neste momento,
fomos abordados por uma senhora muito simpática. Era de estatura média, um pouco roliça, mas
muito sorridente, se aproximou e perguntou se poderia compartilhar o banco
conosco.
Prontamente aceitamos. Foi então que
ela gritou a plenos pulmões: _ Gina, Nena, Paschoale, bambini viene qui.
Rapidamente foi surgindo um numero
incrível de crianças, que a pequena senhora trocava ali mesmo, como se
estivesse usando o banheiro de sua casa. Abriu uma sacola e foi colocando toda
a roupa das crianças dentro dela. Os sapatos ficaram espalhados ao lado e em
baixo do banco.
Terminada a lida com a criançada, pediu
a mais velha que fosse buscar uma cesta onde estava guardado o lanche.
Perguntou se poderia deixar a cesta no banco,
concordamos, agradeceu e partiram em direção a areia.
Podíamos ouvir os gritos da vovó chamando
a atenção de seus netos. Bem ao seu lado
estava um senhor que presumo tenha muitos anos, pois seus cabelos eram
completamente brancos e seu corpo todo cheio de rugas e pelancas, se divertia
apenas sentado com as águas acima da cintura, e, ali ficou por um bom tempo.
Quando resolveu se levantar e sair da água, quase tive um acesso de riso, pois
não é que este senhor havia entrado no mar vestindo apenas uma cueca samba
canção?
Por causa da água o tecido, havia se
tornado transparente, e, o pior de tudo, é que ele resolveu se proteger veja
bem, não com um guarda sol, mas sim com um guarda chuva preto onde havia
amarrado um cabo de vassoura. Ao tentar fixá-lo na areia virou de costas para
nós, se inclinou com o bum- bum bem para o alto, e, neste momento, percebemos
que o fundilho de sua cueca parecia um coador, tanta era a areia ali depositada,
e a água do mar que escorria lembrava mesmo a cor do café. Ele continuou na sua
luta até conseguir o que queria sem mostrar nenhuma preocupação com o que as
outras pessoas pudessem pensar a seu respeito. Depois, deitou-se na areia
protegido pela sombra de seu guarda- chuvas, e, ali ficou aproveitando um bom
banho de sol. Parece que os freqüentadores desta pequena praia já estão acostumados
com a presença deste senhorzinho, pois ninguém se dignou a ficar olhando, nem mesmo
sorrateiramente a esta cena que certamente ficaria muito bem nos filmes de
Federico Fellini. Eu sempre achei que era um exagero a forma que ele retratava seu
povo, mas aqui convivendo com eles, percebo que o grande cineasta, conseguiu com
grande maestria captar toda naturalidade deste povo tão alegre e comunicativo.
Arnaldo teve muita sorte, estava
fazendo uma filmagem da praia e conseguiu gravar este fato tão incomum para
nós. Pena que tenha sido gravado com uma câmera Super 8 e o filme tenha se
deteriorado com o passar dos anos, mesmo assim ainda da para ver algumas cenas,
a maior parte parece que foi atacada por fungos. Ainda bem que assim que
voltamos da viajem, fizemos projeções para que nossos familiares, e, amigos
pudessem comprovar este fato inédito.
Passado algum tempo a simpática nona (vovó em italiano) retornou ao
banco com a criançada toda ao seu redor, morta de fome. Enquanto ela secava os menores
e colocava a roupa enxuta neles, os mais velhos que já haviam feito a troca
atacavam a cesta de onde brotavam queijos, mortadelas, salames, pães, biscoitos
e até algumas mamadeiras que eram dadas aos pequeninos. Delicadamente insistiam
para que provássemos de um queijo ou salame, o que agradecíamos. Mas acreditem,
tivemos que provar o salame que era feito pela simpática senhora, ela só se
aquietou quando aceitamos uma fatia. Enquanto isso ficou a nos observar
esperando pela nossa aprovação.
Levantamos, e, nos despedimos da nossa
recente amiga, ela nos abraçou como se fôssemos velhos conhecidos, as crianças
nos brindaram com muitos beijos. Enquanto nos dirigíamos para o hotel, que
ficava a poucos metros dali, eles continuavam a gritar “Tanti auguri” (felicidades em italiano).
Tínhamos que nos preparar, Franco viria
nos buscar dentro de 40 minutos.
Esse foi sem duvida o dia em que me
senti a própria italiana, totalmente integrada no seio deste povo tão querido
por mim e pelo meu marido.
A autora: Maria (Nilza) de Campos Lepre
Suas historias sao de passar dias e dias escutando e querendo sempre mais. Parabens, Mamy!
ResponderExcluirObrigado amiga. Voce é sempre muito gentil. Bjs
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