segunda-feira, 29 de outubro de 2012

Melhor Natal da minha vida



Estamos nos aproximando da época mais festiva do ano cristão, o nascimento de Cristo, mas, infelizmente este ano, papai esta com sérios problemas financeiros.
Tudo que plantou e colheu durante este ano, em sua fazenda, não conseguiu vender pelos valores merecidos, e, por isso, o prejuízo foi imenso, até o café este ano teve uma queda assustara na sua cotação do mercado.
Mamãe, com toda calma, tentou explicar para nós crianças, que este ano, os brinquedos seriam substituídos pela compra de roupas, pois a situação não estava boa para gastos supérfluos.
Eu como a mais velha dos filhos, compreendi imediatamente, a seriedade da situação que eles estavam vivenciando.
Acredito que os mais novos, não entenderam nada do que ela falou, só queriam saber dos presentes que iriam receber do Papai Noel. 
Eu nesta época já havia completado dez anos de idade, mas, sempre me mantive atenta a tudo que se passava ao meu redor, principalmente sobre assuntos da família.
Já faz algum tempo que percebera a imensa tristeza que papai trazia estampada em seu rosto.
Costumava, nos fins de semana quando vinha para a cidade, ficar por horas, e horas, sentado em sua escrivaninha, fazendo contas, e, muitas vezes o peguei com a cabeça entre as mãos, e, com o olhar triste e perdido no espaço.
Mamãe sempre tentava animá-lo com frases de conforto, mas, eu notava a grande aflição que ele carregava dentro de si. Na presença dos filhos, procurava se comportar como sempre fizera.
A minha maior preocupação era com minha irmãzinha caçula, pois, só tinha três aninhos, e, não entenderia o porquê de não receber um belo brinquedo do seu querido Papai Noel.
Os outros já eram mais crescidos e já tiveram o prazer de belos e fartos Natais, regados de alegria e muitos presentes, mas, ela pobrezinha, só agora começava a entender realmente o significado desta festa.
Quanto mais pensava a respeito, mais meu coração se apertava, tinha que de alguma forma resolver esta situação.
Num estalo achei como conseguir dinheiro para garantir o natal da pequenina.
Todos os fins de semana, papai apesar dos problemas, nos dava uma pequena mesada, era o suficiente para irmos assistir a matinê do cinema, e, comprar um pacote de balas.
Morava conosco uma tia, irmã mais nova de minha mãe. Ela trabalhava de vendedora, na sessão de brinquedos, de um grande magazine de nossa cidade.
Conversei com ela e fiquei sabendo que por ser funcionária da loja, conseguiria comprar brinquedos com um grande abatimento nos preços.
Minha cabecinha começou a criar varias estratégias de como resolver esta situação, sem que meus pais percebessem o que eu estava fazendo.
Passei a visitar minha tia enquanto ela estava trabalhando, pois, só assim poderia verificar os preços dos brinquedos e ver quais os mais baratinhos.
Para minha sorte, as fábricas haviam acabado de lançar no mercado, produtos feitos de plástico que seriam vendidos em forma de unidade. Consegui achar cadeiras, mesas, fogões estantes, camas e outras coisas mais, com as quais poderia montar uma casinha de bonecas para minha irmãzinha.
Depois de saber o quanto iria custar, passei a parte mais difícil, a de conseguir a verba. Teria que ser muito criativa, pois meus pais não poderiam desconfiar do que eu esta tramando.
A partir deste dia, todo o domingo, ao chegarmos ao cinema, comprava os ingressos, e um o pacote de balas para meus irmãozinhos, que eram bem mais novos que eu; esperava que entrassem no cinema, juntamente com seus coleguinhas, e eu ficava do lado de fora esperando até que a sessão acabasse.
Eles não perceberam o que eu estava fazendo, porque costumavam se sentar na primeira fileira de cadeiras, e, eu sempre ficava mais no fundo em companhia de minhas amigas. Quando saiam, eu já os estava esperando para voltarmos para casa.
Não via a hora de terminar o domingo, pois, na segunda feira iria fazer uma nova visita a minha tia, só que desta vez, começaria a compra das pequenas peças. Ela acabou se tornando cúmplice neste meu projeto, era ela que me ajudava na escolha das peças mais baratas. Depois ia até o caixa e comprava em seu nome.
Durante varias semanas, assim agi, até os dias que antecederam o Natal. Só ai, pedi permissão a uma prima, que morava perto de nós, e, consegui montar em sua casa, usando caixas de sapatos, três cômodos de uma casa, um era a cozinha, outro o quarto e o terceiro a sala de jantar.
Sempre tive grande habilidade com as mãos, e, usando uma tesoura, um pouco de cola, folhas de papeis coloridos, e muita imaginação, eu consegui construir os cenários, onde iria colocar as peças compradas.
Agradeci minha prima e minha tia, que acabaram me ajudando na confecção do presente, coloquei tudo dentro de uma sacola, e, rumei para casa, rezando para que ninguém me visse ao entrar, pois, pretendia esconder tudo dentro de meu guarda-roupa. Minhas preces foram ouvidas e tudo correu como eu havia planejado.
Dois dias depois seria véspera de Natal, e, toda família iria assistir a Missa do Galo, teria de achar uma forma de colocar o brinquedo perto do sapatinho de minha irmãzinha sem que ninguém percebesse.
Chegou o dia, mas antes de partirmos, mamãe como sempre, arrastou uma mesinha, para perto de uma janela, cobriu com uma toalha bordada, e, colocou em cima dela um lindo bolo que havia feito a tarde; era para matar a fome do velhinho Noel, quando passasse por nossa casa.
Como em todos os Natais anteriores, colocamos nossos sapatos no parapeito da janela, para que ele ali depositasse algum presente.
Voltamos da missa muito tarde, fomos para cama assim que chegamos, pois, este seria o primeiro Natal que não teríamos a ceia. Esperei acordada até que todos dormissem, e, me levantei pé ante pé, peguei a sacola, e rumei para a sala a fim de montar os cômodos que havia criado para a pequenina. Estava tão entretida que não percebi a chegada de minha mãe, que também vinha colocar alguns pequenos presentes para seus filhos; quando me viu, compreendeu imediatamente o que estava acontecendo e acabou me ajudando na montagem da casinha.
Ao final do serviço, nos levantamos, ficando por alguns momentos paradas uma frente a outra somente nos encarando, quando, sem mais nem menos, ela me abraçou emocionada. Pairava no ar uma onda mágica de amor e carinho. Não precisou que disséssemos nada, nem ao menos uma palavra, pois nossos olhares diziam tudo que estávamos sentindo.
Meu coração transbordava de alegria, fui para cama dormir, ansiosa para que logo chegasse o amanhã, queria ver a reação da pequerrucha quando visse os presentes que Noel havia deixado.
A minha expectativa era tão grande, que acabei levantando antes de todos, em baixo dos meus sapatos, encontrei um almanaque Tico-tico (Publicação destinada a crianças), e fiquei muito contente, pois adorava essa revista.
Próximo ao sapatinho de meus irmãozinhos, dois carrinhos os aguardavam, não eram iguais aos antigos presentes que estavam acostumados a ganhar, mas já era alguma coisa. Olhei para o chão onde havíamos colocado o presente que eu havia conseguido e vi também uma pequena boneca, que certamente vai completar os cenários que criei.
Mamãe acordou e foi para a cozinha preparar o café para a família, me desejou Feliz Natal. Fui agradecer o presente recebido, mas, ela me encarou com os olhos rasos de água e disse: - filha eu é que tenho de agradecer a Deus por ter me dado você.
Fiquei sem saber o que falar; sentei-me a mesa e comecei a tomar o meu lanche. As palavras de mamãe ficaram ribombando dentro de minha cabeça, porque será que ela havia dito aquilo? (Hoje consigo entender, mas, na época foi um mistério para mim).
Papai acordou e se juntou a nós, me deu um beijo e também desejou Feliz Natal. Meus irmãos também despertaram, e, rapidamente foram até a janela para pegar o seu presente, chegaram à cozinha, felizes, carregando nas mãos os carrinhos que Noel havia deixado.
Mamãe me avisou que iria trocar a minha irmãzinha para que pudesse vir receber os presentes que Papai Noel havia deixado.
A minha aflição era muito grande, queria ver logo, qual seria a sua reação frente ao regalo que eu criei. Sentei-me em uma poltrona que ficava próxima a janela, e esperei a chegada dela.
Jamais vou esquecer a sua expressão de espanto e alegria. Seu rostinho se iluminou e um largo sorriso apareceu contaminando de felicidade todo o ambiente a sua volta. Ficou tão encantada, que, demorou em colocar as mãozinhas, nos móveis que montavam a sala, o quarto e a cozinha. Primeiro pegou uma espreguiçadeira que ficava em baixo de um guarda sol, que fazia parte do quintal da pequena casa e correu a mostrar para a mamãe.
A felicidade que consegui dar a este pequenino ser, retornou a mim multiplicada em milhões de vezes. Nunca havia sentido nada igual. Só sei que com este meu gesto, o Natal que se prenunciava, triste e sombrio, acabou se transformando no melhor que tive em toda minha vida.
Adorei ver a fisionomia de papai e mamãe, um pouco mais desanuviada, pois, o dia que tanto os preocupava acabou sendo muito alegre e feliz, o Espírito Natalino acabou tomando conta de todos nós.
Fazer o bem enche os nossos corações de paz e harmonia, e, traz muitas vezes mais alegria a quem dá, do a quem recebe.

                       A autora: - Maria (Nilza) de Campos Lepre.




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