Hoje
acordei nostálgica.
Ao
preparar o café da manhã, comecei a recordar meus tempos de menina.
Retorno
a época em que vivíamos na fazenda, este talvez tenha sido o melhor período de
minha vida.
Meus
dias eram repletos de brincadeiras, não tinha qualquer preocupação com o futuro.
Acreditava que o mundo seria sempre colorido e feliz. Nada de ruim poderia
jamais me atingir, sentia-me protegida ao lado de meus pais e irmãos.
Volta
a minha memória, os antigos cafés de minha infância. Só então percebo o
ridículo da situação. Não há termos de comparação com o que preparo hoje em dia.
Nosso
lanche era feito por mamãe com muito desvelo. A mesa estava sempre coberta por
uma toalha branca com barrados geralmente em xadrez, vermelho ou azul.
Esperando
pela família. Na mesa, havia sempre queijo fresco, feito por ela, bolo de fubá,
bolo de coco, ou de mandioca, era o que eu mais gostava. Em vidros de boca
larga sempre havia vários tipos de bolachas, também feitas em casa. A manteiga era
batida na hora pela serviçal, pão acabado de ser assado, e uma grande jarra com
leite recentemente ordenhado.
Quando
todos estavam acomodados em seus lugares, só aí ela trazia um grande bule com
café acabado de ser coado. O odor que desprendia inundava toda cozinha era um
aroma inebriante, e até agora continua presente em minha memória olfativa, e
neste instante inunda meu ser de saudades.
Tenho
que dizer, que os grãos de café eram torrados em casa, e muitas vezes esta
tarefa era minha. Logo após serem torrados, os grãos eram passados por uma
maquina tocada a mão onde eram moídos.
O
odor daquela cozinha que ficou perdida no passado, o clima de tranquilidade,
paz, harmonia, e do amor que pairava no ar naqueles dias felizes, chegam até
mim como uma cascata. Jorra sem parar e inunda meu ser de uma paz divina.
As
recordações não param de verter, e a saudade crava suas garras em meu coração,
e sem que perceba, as lagrimas me veem aos olhos.
Hoje
em dia, meu lanche da manhã é bem diferente.
Saio
da cama apressada, pego o pacote de pó de café, comprado já moído e empacotado,
coloco em uma máquina, e ai corro ao banheiro para fazer minha higiene pessoal.
Quando
retorno ele já esta pronto.
Abro
a geladeira, pego uma caixa de leite que já foi comprado ha dias. Coloco o em
uma xícara, acrescento o café, e aí o esquento em um forno de micro ondas.
A
minha frente, a mesa se encontra preparada, com duas toalhinhas americanas. No
centro, um pão de forma, e uma caixa de queijo cremoso.
Raramente
tenho tempo de saborear uma fruta ou mesmo um pedaço de bolo. São raras as
vezes que me disponho a preparar algum. Como fico muito pouco em casa, as
frutas acabam se estragando, por isso não as compro com frequência. Este é o
meu café da manhã atual.
Só
agora começo a questionar a vida de minha mãe.
Não
deve ter sido nada fácil, cuidar de uma grande família, fazendo tudo com suas
próprias mãos, e sempre conseguindo manter-nos unidos e felizes. Isso tudo, sem
contar com a ajuda de nenhum recurso que hoje em dia temos, para aliviar nosso
trabalho.
O
tempo não retrocede, mas tudo que vivemos intensamente fica gravado em nosso
ser para sempre.
Quando
menos esperamos o passado retorna e geralmente nos deixa nostálgicos.
Esta
minha volta ao passado me deixou com a sensação de que tudo se passou ha muito
pouco tempo.
Deixou
a impressão de que parece que foi ontem que tudo aconteceu.
Ah!
A saudade machuca, mas quem consegue viver sem ela?
A autora Maria (Nilza) de Campos
Lepre.