Apesar de
sua família ser muito pobre, estava sempre
alegre e feliz. Encontrava a beleza em tudo que via, mesmo nas pequenas coisas.
Estava sempre com um sorriso nos lábios. Quando alguma coisa acontecia de ruim,
abria o peito e cantava com sua voz infantil,
mas muito afinada, músicas alegres, que acabavam
contagiando a todos ao seu redor.
Quando
seus irmãos reclamavam a falta de brinquedos, ela sempre achava algum modo de
fazê-los felizes. Pegava uma bola feita de meias velhas
e jogava futebol ou bola queimada com
eles. Outras vezes, achava algumas pedrinhas para atirarem na água do riacho.
Se por
acaso ficavam tristes, chamava a atenção deles para o lindo canto de algum
pássaro que se encontrava por perto, e ficavam tentando imitar o som emitido
por ele por algum tempo. Quando cansavam desta brincadeira, mostrava a eles a
beleza de uma flor que estava desabrochando, ou simplesmente o trabalho de uma
abelha em busca do néctar para sua sobrevivência.
Após uma
chuva, se apontasse no céu um arco-íris, aproveitava para criar várias histórias
sobre ele. Muitas vezes, simplesmente repetia alguns contos que sua mãe lhe
havia contado ou lido enquanto seu pai ainda era vivo. Neste tempo, a vida era
bem diferente: ela tinha mais tempo para se dedicar à família e aos filhos.
Perdera
seu pai há dois anos e o mundo ao qual estava acostumada caiu por terra de uma
hora a outra. Sua mãe não tinha nenhum estudo; trabalhava como faxineira em
casa de pessoas ricas, mas, ao ficar viúva, com três filhos pequenos para criar,
ninguém mais a contratou. Antes podia pagar a uma amiga para tomar conta das
crianças enquanto trabalhava. Com a falta do marido, que faleceu sem nunca ter
contribuído para uma aposentadoria, sua renda caiu a zero. Para piorar, nesta
pequena cidade não há creche municipal; e as que
existem são particulares, portanto, fora de cogitação.
A
situação da família ficou tão grave que a mãe passou a catar lixo nas ruas. Algumas pessoas, para ajudá-la, passaram a guardar
jornais e outros objetos recicláveis, que ela recolhe todo começo de semana.
Nos finais de semana dá uma passada pelas lojas comerciais para resgatar algumas
caixas e alguns invólucros de geladeiras, televisores e outros produtos.
Faz
algumas paradas em bares que guardam latinhas de refrigerantes, cerveja e
caixas vazias. Alguns donos de bom coração chamam as crianças, que sempre a
acompanham, para presenteá-los com algumas balas ou biscoitos. O que consegue
arrecadar com a venda de tudo que arrecada, mal dá para a comida dos filhos.
Seu
marido deixou como herança um casebre e, também,
a pequena carroça com a qual ele carregava suas ferramentas de jardinagem e que, agora, serve a ela para carregar o material
recolhido. Ele era o jardineiro de várias casas da cidade. Com o que ganhava,
dava para viverem com relativa fartura.
A cabana
fica às margens do córrego que margeia a cidade. Para
lá se mudou com seus três filhos.
Todo o
dia acorda cedo e prepara o lanche das crianças;
geralmente é uma xícara de chá ou café e um pedaço de pão seco. Seu coração
fica apertado por não poder servir nem sequer um gole de leite aos pequenos.
Nina é a
mais velha das crianças. Neste ano, vai completar seis anos. No próximo,
começará a frequentar a escola pública. Todo dia, ao acordar, sai da cama
cantando e comentando a beleza do dia que se abre à sua frente, mesmo que o
tempo esteja chuvoso ou frio. A alegria que sente em viver é contagiante.
Assim, consegue desanuviar um pouco as sombras da vida de todos nesta pequena
casa.
Quando a
fome aperta, vai com os pequenos até a casa de alguma vizinha onde há alguma
arvore frutífera e pede, com educação, para colher algumas frutas para seus
irmãozinhos. Sempre é recebida com carinho por todos.
O Natal
está chegando. Nina, como nos dois últimos anos, pediu à sua mãe que escrevesse
uma cartinha para o Bom Velhinho. Tudo que ela mais desejava foi escrito
novamente. Só que, desta vez, tinha a certeza que conseguiria, pois Noel desta
vez iria atender seu pedido. A certeza que sente se deve à conversa que teve
com ele há dois dias. Ao passar pela rua do comércio, encontrou o Bom Velhinho
e relatou a ele tudo o que mais desejava nesta vida. Noel garantiu a ela que
receberiatudo que havia encomendado.
Pegou a cartinha
recém-escrita e foi em desabalada carreira até o prédio dos correios, saltando
e cantando alegremente. Ao chegar, enfiou a cartinha em uma urna que estava
colocada logo na entrada do prédio. Gritou a plenos pulmões:
- Este
vai ser o melhor Natal de minha vida.
Depois, saiu dançando e cantando pelas ruas da cidade,
contagiando a todos com sua alegria.
Quando
contou à sua mãe que iria esperar pelo Papai Noel durante toda noite de Natal,
ela, muito preocupada, tentou dissuadi-la, dizendo:
- Filha,
nem todos recebem presentes neste dia. Ele está muito idoso e, se cansa com
facilidade. Muitas vezes, acaba se esquecendo de alguém. Você tem que entender
que com a idade avançada não consegue fazer tudo o que fazia quando era jovem.
Nada do
que sua mãe ou outras pessoas dissessem conseguia dissuadi-la da meta que havia
traçado.
Continuou
cantando e dizendo a todos sobre o grande amor que sente pelo velho Noel. Toda
noite, depois de rezar a papai do céu, mantém um dialogo com ele e termina
sempre pedindo que não se esqueça de seu pedido:
- O que
está escrito na carta é a coisa mais importante que existe neste mundo, não
falhe comigo. Amo muito você. Agora é como se fosse meu pai. Beijos, beijos.
Os dias
passam. Chega o Natal.
Ela, como
havia prometido, sentou-se em uma cadeira na pequena sala e ficou à espera.
Mas, acabou pegando no sono mesmo sem ter desejado isso. Acordou no dia
seguinte, com um monte de caixas espalhadas pela sala: eram muitos pacotes de
presentes. Ficou maravilhada, sua boca escancarou de emoção. Sem nem tocar em
nenhum deles, correu a acordar seus irmãos e sua mãe:
-
Acordem! É Natal! O menino Jesus já nasceu e Papai Noel deixou um montão de
presentes para vocês. Venham!
As
crianças partiram como um jato para a sala e começaram a estraçalhar as caixas
de tão excitados se encontravam. Foram encontrando carrinhos, caminhões, jogos
e mais uma série de brinquedos.
Nina se
colocou na porta de saída da casa, de onde podia ficar apreciando a alegria das
crianças. Mas nem por um segundo cogitou de pegar algum dos embrulhos para si.
De seu rosto, irradiava uma luz que parecia ser divina. É como se tivesse
ganhado o melhor dos presentes existentes neste mundo. Ficou ali apreciando
aquela cena: a alegria que reinava naquele instante naquele casebre; pobre sim,
mas cheio de amor, e muita graça divina.
Nina se
encontrava tão distraída, que levou um susto, quando alguém bateu à porta. Ela
a abriu e qual não foi a sua surpresa ao ver o mesmo Papai Noel que havia
encontrado no centro da cidade, portando uma bicicleta. Ela logo foi dizendo:
- Noel,
não foi isso que eu pedi. Tudo que sonhei já está aqui, dentro deste casebre.
Veja! O senhor deu a eles os brinquedos que sempre sonharam. Agora, se
encontram na maior felicidade. Agradeço ter realizado meu sonho.
Noel
respondeu:
- Não se
preocupe. Este, eu resolvi trazer pessoalmente, visto que não havia pedido nada
para você mesma. Venha aqui fora. Quero te mostrar uma coisa.
A menina
saiu meio ressabiada, quando se deparou com um burrinho, com um imenso laçarote
vermelho preso a seu corpo.
- Este é
para sua mãe, para que ela não tenha mais que puxar a pequena carroça.
Mesmo sem
agradecer, entrou pela porta como um furacão e trouxe sua mãe pela mão para
receber seu presente. A mulher ficou sem palavras. Só sabia chorar.
Nina
pulou no pescoço do velhinho e quase o sufocou de tão apertado foi o abraço que
deu nele.
- Viu,
mamãe! Eu não falei que ele existia? Todo mundo duvidou, mas só eu acreditei.
Não adiantou de nada o que todos falaram eu sempre tive a certeza que seria
atendida.
Depois da
partida de Noel, Nina saiu pela cidade, alardeando a todos o grande feito.
Pedalou em sua linda bicicleta, que, certamente, seria compartilhada com seus
irmãos, cantando lindos cânticos de Natal.
Fim
A autora: Maria (Nilza) de Campos Lepre.
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