Faz alguns anos que me encontro casada, tenho três
filhos, quase que criados como trigêmeos, pois a diferença entre eles é de
apenas um ano e um mês.
Quando minha caçula nasceu o menino que era o do meio,
ainda não andava, e a mais velha ao perceber que ela era menina igual a ela,
voltou a usar fraudas novamente.
Diferente da criação que eu tive, solta pelos campos,
invernadas e brincando livremente, subindo e descendo de árvores, meus filhos
estão sendo criados presos, sem liberdade alguma. Nasceram em uma cidade onde o
transito impede que fiquem soltos nas ruas.
Meu marido acabou comprando um terreno em um loteamento
no centro da cidade, onde a rua principal não tem saída, ela termina no muro de
uma casa. Não há passagem para outra rua, nem avenida. Quando pronto vai ficar parecendo
uma vila, só entrando quem morar ali.
Acredito que quando nos mudarmos, eles terão um pouco
mais de liberdade.
Sendo assim, eles nunca tiveram contato direto com
animais comuns nas fazendas, como bois, vacas, cavalos, e outros.
Algumas vezes, íamos passar o dia em uma pequena fazenda
que papai tinha perto de Gavião Peixoto, mas ali ele não criava animais somente
se dedicava a plantação.
O colono tinha algumas galinhas e alguns porcos que criava
para seu sustento. E assim eles ficaram conhecendo esses animais de perto.
Em certa ocasião quando eles já estavam um pouco mais
crescidos, fui convidada a passar alguns dias em casa de uma amiga muito
querida, e cujo pai era um grande fazendeiro de gado.
Ela se chamava Neuza, era filha de Seu Nello Novelli,
muito querido por todos na cidade de Ibitinga.
Uma tarde ele passou pela casa da filha, e convidou a
todos para passarmos um dia em uma de suas fazendas.
O marido de minha amiga chama-se Reinaldo, mas era mais
conhecido pelo apelido, Dadinho, nos levou até a fazenda no dia seguinte, nos
deixou lá e voltou para seus afazeres na cidade.
Chegamos na hora da ordenha, seu Nello nos acompanhou até
o mangueirão onde as vacas se encontravam.
Meus filhos ficaram assustados com o tamanho dos animais,
pois nunca tinham chegado tão perto de um deles. Conheciam somente as figuras
estampadas em revistas ou livros.
Não paravam de falar e fazer perguntas sobre eles.
O senhor que estava ordenhando uma das vacas levantou-se,
e chegou até a cerca par pegar as canecas que segurávamos nas mãos.
Minha filha mais velha, quando viu o banquinho preso atrás
de sua bunda, começou a me metralhar com milhões de perguntas. Ela se
encontrava na idade dos porquês.
Depois de tudo esclarecido, ele voltou para ordenhar a
vaca, só que antes colocou o bezerrinho para mamar um pouco, quando a pequena viu
aquela cena, ficou de boca aberta, e começou a me chamar em autos brados:
- Mamãe, vem ver quantas mamadeiras essa vaca tem!
Todos que se encontravam ali caíram na risada, acho que
ninguém podia acreditar existir no mundo uma criaturinha tão inocente, e que
nunca havia visto o úbere de uma vaca?
Para aquelas pessoas criadas no campo deve ter parecido
uma coisa do outro mundo, mas infelizmente isso é muito comum nos meios urbanos.
A ingenuidade de uma criança acaba gerando muitas
histórias engraçadas, e esta passou a fazer parte do folclore de nossa família.
Fim
A autora: Maria (Nilza) de Campos Lepre